Ah, a velhice, coisa frágil:
é guarda-chuvas, é óculos, é meias,
é peso com o vir a idade
Lugar comum dizer que ela
– por ou sem querer –
nos leva e traz à infância
[ah, e como nos leva!...]
Aí, nela ficamos, e permanecemos,
até quando nós, crianças,
quisermos nos deixar dos nossos corpos gastos
O pijama ao meu corpo acostumado
me dá o sinal do fim da boa idade,
sinal de que, além dos guarda-chuvas,
dos óculos, das meias e dos pijamas,
velhice também é chinelos, e calçado estou
nesse meu corpo desacostumado
seco e em falta de prazeres mundanos
[vez de quando em alta]
É quando, ao invés das saladas sem graça,
dos pães integrais, das barras de cereais,
prazeroso, de pulmão cheio,
como qualquer mulher que me restou ao gosto,
como quem sobe e desce degraus!...
É tempo de não ter ninguém com quem,
comigo, possa jogar damas,
e leio menos livros, e acarinho gatos,
e chamo o primeiro idiota que vier me contradizer,
de “seu grandessíssimo idiota”!...
Ah, a velhice, coisa frágil!...
Seu tempo, de dia, é ágil,
e de noite, é guarda-chuvas, é óculos, é meias,
é pijamas, é chinelos, é tosse cheia, é mijo fácil...
E eu, idiota, a criança a ir...
Ah, a velhice, coisa tão frágil!...
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(Djalma Filho)